Elas são a minoria no transporte. Têm o desafio de romper a barreira em ser motorista de caminhão em um ambiente predominantemente com homens. De acordo com o Perfil dos Caminhoneiros da CNT, as mulheres representam apenas 0,5% desses profissionais. A mesma pesquisa mostra ainda que o número de mulheres caminhoneiras empregadas por empresas é de 0,3%.
De acordo com o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) 182.376 mulheres têm habilitação em categorias que permitem a direção de caminhões. Esse número representa 6,5% do total de habilitações para esta modalidade. E dentro desse número pequeno, existem grandes mulheres que além de caminhoneiras são mães e chefes de família.
O pé na estrada vem de sangue para Maria Delaite Zanatt. Mãe de quatro filhas e avó de sete netos, ela fala que o incentivo veio de casa. “Meu pai puxava porco e minha mãe já era motorista. Brinco que o que tinha na minha mamadeira era óleo”, disse. Para ela a rotina de ser mãe e avó teve suas dificuldades, mas foi alto sempre gratificante.
Ela e o marido se revezavam na boleia. Trabalhavam dia e noite e, ás vezes, as suas filhas precisavam viajar com eles. A mãe de Maria Delaite teve papel importante para que ela pudesse pegar a estrada.”Sem esse apoio dificilmente conseguiria manter a rotina de motorista e mãe”, declarou.
Já para Ivone Rocatelli a construção familiar também foi na estrada. “Sou mãe de três filhos e caminhoneiros. Então, o ambiente de caminhão sempre esteve muito presente em nossas vidas”, disse. Ela conta, ainda, que teve que dar uma pausa na paixão por caminhões para se dedicar aos filhos, mas lembra que sempre tentou deixar claro que gostava da boleia.
Maria Delaite realiza o transporte de cargas para em São Miguel do OesteEssas duas mães continuam no volante. Maria Delaite realiza o transporte de cargas para a empresa SVD Transportes, de São Miguel do Oeste. Já Ivone é a única motorista do transporte escolar da prefeitura de Guarujá do Sul, em Santa Catarina. Para ambas, os desafios em serem mães e estarem neste setor foi o que fez crescimento tanto pessoal quanto profissional.
Tanto uma como a outra acreditam que todas têm os seus espaços e possibilidades, basta preencherem. “Hoje há muita mulher que com a cara e coragem que se insere neste ambiente. O nosso espaço está ali, basta a gente querer e ter oportunidade que somos capazes”, disse Ivone. Para Maria Delaite, a profissão é tão apaixonante que a única dica para quem pensa em entrar na área é “siga seus sonhos que tem com se arrepender”.
Nas Curvas da Estrada mostra história de mulheres no transporte – As histórias de três mulheres motoristas são ilustradas no documentário Nas Curvas da Estrada. O longa, dirigido por Viviane Mayumi, mostra essas personagens em seus espaços de trabalho como taxi, caminhão e ônibus escolar. “Sempre tive vontade de fazer um filme de estrada e foi numa corrida de táxi que a ideia surgiu. Normalmente converso bastante com os taxistas, mas foi a primeira vez que eu fiz uma corrida com uma mulher taxista em Floripa e só consegui trocar algumas poucas palavras com ela pois minha cabeça estava a mil pensando em todas as mulheres motoristas”, explicou Viviane.
Ela ressalta, ainda, que o documentário é como se o espectador pegasse carona com essas motoristas e conversasse com elas. Além disso, para ela, colocar uma mulher motorista como protagonista em um filme é desafiar o que a sociedade entende por “normal”.
Sobre futuras mudanças em diversas áreas onde há maior predomínio de homens trabalhando, Viviane Mayumi acredita que mudanças estruturais podem acontecer por perceber diversas ações. “Isso vai abrir oportunidades para mais mulheres em todos os setores e também ajudarão elas a se manterem nesses cargos”, declarou.