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O ano começou diante de um horizonte de algumas certezas, mas também de muitos desafios para a indústria do transporte de carga. Para os atores do setor, no entanto, as premissas de um lado e de outro tornam o que vem pela frente nebuloso.
Uma das convicções já sobre a mesa é continuidade do crescimento do mercado de caminhões. No ano passado, apesar de toda a dificuldade com os impactos da pandemia e a falta de componentes, as demandas do agronegócio, construção, mineração e e-commerce preservaram as vendas em alta.
O mercado encerrou o período com mais de 128,6 mil unidades negociadas, avanço de 43,5%. Ainda que o resultado tenha sido beneficiado por uma base baixa de comparação, de ano atípico com o desembarque da crise sanitária, foi o maior volume vendido desde 2014.
Anfavea aponta vendas de caminhões 9% maiores em 2022
Em sua primeira estimativa, apresentada na primeira semana do ano, a Anfavea, associação que representa os fabricantes de veículos no País, projeta mercado por volta de 140 mil caminhões que, se realizado, anotará expansão perto de 9%.
“É muito difícil fazer previsões no atual momento. Temos a certeza de uma retomada lenta em um cenário que irá se manter com uma mistura de restrições na oferta e na demanda. A falta de insumos deve perdurar, embora menos crítica e, apesar do avanço da vacinação, a pandemia ainda se mostrará relevante na economia”, resumiu Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea.
Para a associação, os mesmos setores que alavancaram as vendas de caminhões no ano passado seguem como protagonistas em 2022. A estimativa de mais um crescimento na produção de grãos na safra 2021/22, a continuidade na alta nos preços das commodities e na da expansão no comércio eletrônico deverão manter aquecidas as vendas.
Veículos negociados em 2021 seguem com entregas nos próximos meses
Depois, de acordo com balanço da Fenabrave, a federação que reúne os distribuidores de veículos, as vendas de caminhões se estabilizaram em patamar alto. “Há muitas unidades já comercializadas que serão entregues ao longo dos próximos meses”, observou José Maurício Andreta Júnior, presidente recém-eleito da entidade.
No mesmo cenário que se mostra comprador, no entanto, também tem os fatores de preocupações. Não há consenso na estimativa do PIB. A Anfavea construiu sua projeção baseada em crescimento de 0,5%, mas não raro se encontra analistas que enxergam 0% ou mesmo queda. A alta na taxa de juros sinaliza aumento no custo de financiamento – o CDC já chega a 27% ao ano –, bem como a sombra da inflação e o desemprego recorde reduzem o poder de compra. Soma-se ainda o câmbio volátil, em nível não menos de R$ 5,50, encarecendo a cadeia produtiva.
Esforços na redução de custos deverão ser prioritários o transporte de carga em 2022. Tanto o veículo quanto a operação ficaram mais caros no ano passado e não há, ao menos no curto prazo, sinais de mudanças. Somente para a indústria, por exemplo, o aço ficou 70% mais caro, em média. Na ponta, de acordo com levantamento mensal da NTC&Logística, associação que representa transportadores, em 12 meses a partir de novembro do ano passado, o preço do cavalo-mecânico sofreu elevação por volta de 30%.
Abastecer o caminhão ficou 50% mais caro
Colocar o veículo para rodar também deixou a conta mais alta. O diesel sofreu altas consecutivas desde abril do ano passado. Conforme relatório do Departamento de Custos Operacionais e Pesquisas Técnicas e Econômicas (Decope) da NTC, o combustível do tipo S-10 registrou aumento de 50,72% no acumulado de 12 meses até novembro de 2021. Dessa maneira, o preço médio encontrado nas bombas do País foi de R$ 5,447.
Cabe ainda lembrar que o ano antecipa a mudança de fase das normas ambientais do Proconve, o programa de controle de poluição veicular. A partir de janeiro de 2023, todos os caminhões deverão sair de fábrica adequados à nova legislação do P8, equivalentes às do Euro 6. Para isso, os veículos estarão embarcados com tecnologias mais avançadas que, no fim das contas, encarece o produto.
Incertezas provocadas pela falta de componentes e pelas eleições
A evolução na regulamentação ambiental, como em anos anteriores, deverá gerar antecipação de compras, afinal, os caminhões da geração atual certamente têm preços menores em relação aos que virão. Mas é preciso considerar que o desabastecimento de insumos se coloca como uma condição que reduz a oferta na ponta.
“A rigor teremos alguma antecipação. Mas vai depender do nível de abastecimento de insumos e componentes nas linhas de produção a partir do segundo semestre. Hoje, por enquanto, a programação consegue atender somente a demanda de agora”, avaliou Marco Saltini, vice-presidente da Anfavea para o segmento de veículos pesados.
Não bastasse tantos fatores que motivam hesitações, será um ano de embates políticos devido às eleições. “Nossos estudos apontam para o crescimento nos segmentos automotivos. Mas, situações conjunturais podem afetar as estimativas, considerando que a indústria ainda sofre com a falta de insumos e componentes eletrônicos, que estamos diante de uma economia turbulenta e iniciando um ano de eleições, que costumam criar um cenário de incertezas”, resumiu o presidente da Fenabrave.