32% das lideranças são femininas, porém 72% das mulheres já sofreram algum tipo de assédio no ambiente corporativo
Atualmente, 32% das lideranças de grandes empresas são femininas de acordo com a pesquisa Women In Business 2022 da Grant Thornton. No ano anterior, o estudo já havia identificado uma janela de oportunidade para mulheres com o fim da pandemia, algo que se comprovou na análise divulgada no primeiro trimestre de 2023.
“A igualdade de gênero é algo que nós, líderes, devemos priorizar todos os dias, em todas as decisões que tomamos”, afirmou Anna Johnson, CEO da Grant Thornton Suécia na divulgação da pesquisa. Esses dados refletem uma grande mudança no cenário: em um espaço de 10 anos, as mulheres ocupavam apenas 21% dos cargos de liderança nas empresas, um aumento de 11 pontos percentuais (p.p.) em relação a 2022.
Das cinco mil lideranças empresariais pesquisadas, 90% possuíam, pelo menos, uma mulher como CEO, CFO, CTO e semelhantes. Quando se fala em lideranças femininas, o Brasil está acima da média global: entre os líderes, as mulheres representam 38%.
Apesar disso, por conta da pandemia, houve uma redução de 1% entre 2021 e 2022 nos postos executivos ocupados por elas. Porém, os números ainda são maiores que a média latino-americana, de 35%.
“Devemos reconhecer que a pandemia impulsionou a ascensão das mulheres no mercado de trabalho, que, por sua vez, aposta na permanência desse cenário de maior presença feminina no alto escalão no longo prazo, haja vista que 81% das empresas afirmaram estar criando um ambiente mais inclusivo para o talento feminino”, afirma Élica Martins, sócia da Grant Thornton Brasil, na divulgação nacional da pesquisa.
Dentro do transporte rodoviário de cargas
Ao fazer um recorte para dentro do transporte rodoviário de cargas, as mulheres representam apenas 24% das funções, em sua grande maioria em atividades administrativas, segundo o Instituto Paulista do Transporte de Carga (IPTC). Ao comparar com a representação de 51,1% da população brasileira, o número no setor ainda não é proporcional.
A razão dessa desproporcionalidade é cultural, de acordo com Ana Jarrouge, presidente executiva do Sindicato das Empresas de Transportes de Carga de São Paulo e Região (SETCESP). “Há inúmeros desafios que as mulheres enfrentam para se candidatar a esses cargos. Há barreiras culturais limitantes que impedem as empresas de enxergarem as mulheres como possíveis candidatas a promoções, como maternidade, tarefas domiciliares, entre outros”, conta.
Uma pesquisa da McKinsey/LeanIn.Org, revelou que 37% das dirigentes femininas já deram ideias pelas quais outras pessoas receberam os créditos. A pesquisa destacou um cenário ainda pior para as mulheres negras, que sofreram 1,5 vezes mais do que mulheres de outras etnias, com colegas afirmando ou insinuando que não são qualificadas para seus cargos.
Ainda, 40% delas afirmam que seus esforços para garantir uma equipe diversa, trazer sustentabilidade para empresa e garantir o bem-estar da equipe não é valorizado. Ao comparar com líderes homens, as mulheres são 1,5 vez mais propensas a sair das atuais empresas para ingressar em outra companhia cujos ideais estejam de acordo com os seus.
“Vontade, coragem e atitude é o que precisa ser feito. Mais do que falar e ter boas intenções, é necessário que as empresas se engajem, busquem soluções efetivas, abram o assunto em suas rodas de discussões, escutem ativamente e junto com todos e com apoio encontrem os caminhos para alcançar a equidade de oportunidades e condições”, aconselha Jarrouge.
Dados do Instituto Paulista do Transporte de Cargas (IPTC), de 2020, mostra que as mulheres ocupam apenas 12% dos cargos de lideranças executivas de empresas de transporte rodoviário de cargas. A pesquisa também mostra que 91% das colaboradas almejam subir de função.
Joyce Bessa, head de gestão estratégica, finanças e pessoas na TransJordano, conta como encara essa diferença. “Acho que essa cultura, que impede as mulheres de chegarem nos cargos corporativos, é devido ao fato de a maioria das lideranças ser masculina. Muitas vezes eles não querem dar esses cargos para nós mulheres não por serem machistas ou por não quererem, mas por estar acostumados a lidar com outros homens, então eles confiam em alguém do mesmo gênero.”
E Bessa não está sozinha nesta crença: 52% das mulheres concordam que homens beneficiam outros homens na sucessão de cargos ou em indicações, de acordo com a pesquisa “A Mulher na Comunicação – sua força e seus desafios” realizada pela Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje).
Apesar de tudo, dados do IPTC mostram que 70% das mulheres não veem a maternidade como impeditivo de crescimento profissional no TRC e que 76% acreditam estarem preparadas para assumir um cargo mais alto.
A pesquisa também afirma que 79% das mulheres acreditam que o setor oferece oportunidade para elas crescerem profissionalmente, principalmente se o superior imediato for outra mulher. 42,6% acreditam que as oportunidades são iguais no TRC.
“O que eu falo para mulheres que estão entrando em cargos de liderança é para liderarem como mulher. Elas podem até se espelharem em homens, mas liderem como mulher. Lidere com seu pensamento e com seu sexto sentido e seja você. Se espelhe nos outros, mas seja você, coloque a sua pitadinha. Eu acho isso importante”, conta Bessa.
Vencendo o preconceito
Segundo a pesquisa da Aberje, três a cada quatro mulheres já sofreram algum tipo de assédio dentro do ambiente de trabalho e 77% delas também presenciaram situações com outras colegas.
“Acho difícil encontrar alguma mulher que responda que não [sofreu assédio]. Mais do que vivenciar ou presenciar, o importante é como reagir a tal situação. Ignorar, seguir em frente, enfrentar, denunciar, cada um sabe o que deve fazer em momentos como este, indo de acordo com a gravidade da situação. Eu sigo em frente porque acredito que podemos melhorar e superar qualquer tipo de restrição, de preconceito ou de limitação. Nossa resiliência nos tornará mais fortes e nos capacitará todos os dias para alçar voos mais altos, mesmo diante das adversidades”, conta Ana Jarrouge.
24% das mulheres acham que a disparidade salarial ainda é um problema a ser enfrentado. Outro dado, agora do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelou que a diferença de salários entre gêneros saltou de 20%, em 2017, para 22%, em 2021, um retrocesso de 2 p.p..
Nesse sentido, a ministra do Planejamento e Orçamento do Brasil, Simone Tebet (MBD), defende punições mais severas para empresas que não se adequem à igualdade salarial. Hoje (8), no Dia Internacional da Mulher, o presidente Lula (PT) apresentou um pacote de medidas que garantirá a igualdade salarial para pessoas que exercem a mesma função, o anúncio aconteceu no Palácio do Planalto com ministros do governo e representantes de bancos públicos.
Além das medidas governamentais, movimentos como Vez e Voz, do qual Ana Jarrouge é idealizadora, exercem um papel importante para garantir igualdade no mercado de trabalho. “Esses grupos trazem luz, coragem e incentivo, por isso me dedico a esta causa. Porque acredito que as mulheres podem, sim, crescer e alcançar novos cargos dentro do TRC, incluindo as entidades de classe que representam este segmento tão relevante para economia nacional. Devemos estar por perto, unidas e com propósitos claros para não só aceitar as oportunidades, mas criá-las”, finaliza Jarrouge.
Fonte: Grupo Mostra de Ideias