Rodovia 282 atrasa o Oeste de Santa Catarina

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Rodovia 282 atrasa o Oeste de Santa Catarina

Chapecó, 23.1.06 – Problema que continua sem solução, a estagnação da economia do Oeste catarinense era a principal preocupação de empresários e comunidade local há um ano, quando o DC produziu os cadernos de infra-estrutura. Pouca coisa mudou no período, com exceção da operação tapa-buracos na BR-282. Os projetos de ferrovia não evoluíram e o acesso ao Oeste ainda é precário, tirando competitividade das empresas da região.
Cada quilômetro da precária BR-282 que liga o Oeste e o Extremo-Oeste ao Litoral do Estado consome um pouco da competitividade das empresas da região. Distante das vias de escoamento da produção, tanto para o mercado interno, através de outras rodovias federais, quanto do mercado internacional, através dos portos, a região é uma das que mais se ressentem da falta de investimentos em infra-estrutura.
A recuperação da BR-282 é indispensável para o desenvolvimento do Oeste, segundo o presidente da Associação Comercial e Industrial de Chapecó (Acic), Elói Bergamaschi, mas a operação tapa-buracos é insuficiente para resolver os gargalos da rodovia.
?O Oeste precisa da recuperação da pista, acostamentos e terceiras vias pelo menos nos pontos mais críticos. A estrada é a espinha dorsal do Estado e a discussão deveria ser em torno de sua duplicação?, diz.
Bergamaschi ressalta a importância da implantação do porto seco, que está em processo de aprovação pela Receita Federal e será um divisor de águas para a região, por agilizar os despachos aduaneiros. Ele destaca ainda as obras do anel viário em torno de Chapecó, a recuperação do acesso ao aeroporto e a ampliação do terminal.

Transportador amarga prejuízo

Apesar das promessas de melhorias nas rodovias, quem trabalha com transporte de cargas não tem nada a comemorar. Cada dia que passa sem investimentos nas estradas representa custos maiores para o setor.
As mudanças foram pouco significativas, de acordo com o presidente do Sindicato das Empresas de Transportes do Oeste e Meio-Oeste Catarinense (Setcom), Tarcísio Vizotto, de Concórdia. Os principais trechos estão em situação lamentável e a aplicação indevida dos recursos da Cide (apenas 10% são destinados às obras de infra-estrutura) encarecem os custos do setor.
?A expectativa de aumento de cargas não se concretizou por causa da seca e da febre aftosa, que afetaram o agronegócio, principal cliente das transportadoras do Oeste. O valor do frete está defasado para cobrir os custos e a resolução que libera o uso dos chamados bi-trem (caminhões com 17 eixos e capacidade de 57 toneladas) não é cumprida?, diz.
O presidente da Coopercarga, Dagnor Roberto Schneider, ressalta que as obras realizadas são insuficientes para melhorar as condições de infra-estrutura de transportes do Estado porque demoraram demais e a deterioração da malha viária é reflexo de décadas sem investimentos.
?A cada ano, diminuem os investimentos em infra-estrutura em relação ao PIB. Há 10 anos, eram de 2%, hoje não passa de 0,2%. Neste período, aumentaram os custos de manutenção e o combustível. O setor de transportes teve problemas pontuais (seca, aftosa, dólar) e está descapitalizado?.

Saiba mais
Perto de Joaçaba, no quilômetro 381 da BR-282, um caminhão virado com a carga esparramada pela rodovia paralisa o trânsito. Cena corriqueira na estrada federal que corta o Estado. Para o caminhoneiro Joacir de Morais, que vai arcar com os prejuízos da carreta, e para o seu patrão, responsável pela carga, a cena é desesperadora. Moraes levava água de Curitibanos para Chapecó e Pinhalzinho. Atrasou a entrega e amargou prejuízo por conta de um desnível no asfalto da pista, problema comum no trecho que costuma fazer diariamente entre os municípios do Oeste catarinense.
Com a estrutura abalada, a ponte sobre o Rio Chapecó precisou de obras emergenciais. Conforme o engenheiro responsável Mauro Pires de Oliveira, os pilares cederam e foi preciso recuperar toda a estrutura. Em obras desde maio de 2005, teve o tráfego interrompido por mais de um mês, obrigando os motoristas a utilizarem um desvio de 30 quilômetros. No final do ano passado, o trânsito foi liberado em uma das pistas. – Os problemas persistem na 282, mas existe a promessa de recuperação e isso já é alguma coisa – destaca o inspetor da PRF, Luiz Graniel.
Na SC-303, próximo a Joaçaba, a Polícia Rodoviária Estadual organiza o trânsito para que os operários consigam realizar seu trabalho: tapar alguns buracos provocados pelo excesso de tráfego. As rodovias estaduais não são projetadas para o trânsito pesado, mas para fugir da precariedade das estradas federais muitos motoristas de caminhões preferem utilizar caminhos alternativos. Segundo o presidente do Deinfra, Romualdo França Júnior, 29,8 quilômetros da SC-303 estão sendo reabilitados. As obras estão quase no final e contemplam o trecho entre os municípios de Joaçaba, Capinzal e Lacerdópolis.
Uma experiência traumatizante deixou o caminhoneiro Ivan Sgorla, de 34 anos, ressabiado com a profissão. Ao reduzir a velocidade para não cair num enorme buraco na BR-163, em São Miguel do Oeste, Ivan foi “atropelado” por outro caminhão, que bateu na traseira do seu veículo, fazendo com que ele caísse num barranco. – Desloquei o pescoço, quase morri. Além disso, gastei R$ 1 mil para consertar o caminhão. O frete hoje está muito baixo, não cobre as despesas e muito menos o risco que a gente corre nestas estradas – conta.
Caminhoneiro há 35 anos, Domingos Pedro Percigili, nunca havia demorado tanto para fazer uma viagem de Minas Gerais a Buenos Aires. Com um carregamento de abacaxi, o motorista calculou a viagem em 10 dias, quando o normal seria fazê-la em, no máximo, cinco. Os motivos: além das condições das estradas, que o obrigaram a uma parada forçada para trocar as molas do veículo, a greve dos fiscais o segurou durante dois dias inteiros na enorme fila para passar pelo Porto Seco de Dionísio Cerqueira.
Uma usina de asfalto é a grande promessa para o Oeste catarinense. Segundo o engenheiro do DNIT Oeste, José Eleutério de Araújo, o equipamento começou a operar no final do ano passado, recuperando as BRs 158 e 163 através do Programa de Investimento e Revitalização de Rodovias (PIR 4) do governo federal. A enorme máquina garante agilidade no asfaltamento, pois efetua a três operações ao mesmo tempo. – O contrato é extensivo à BR-282 para recapeamento e recuperação dos acostamentos – afirma o engenheiro.
Quando fez a mesma viagem no final de 2004, a equipe do DC raramente encontrava obras nas rodovias federais. Este quadro mudou radicalmente. Mesmo que apenas para realizar a chamada operação tapa-buracos, as máquinas e equipes do DNIT marcaram presença nas estradas durante a reportagem feita um ano depois, em dezembro passado. Em Faxinal dos Guedes, próximo a Vargeão, a BR-282 recebe recapeamento. Segundo o coordenador do DNIT/SC, João José dos Santos, o ano de 2006 será marcado pela recuperação de todas as rodovias federais do Estado, ainda que sejam obras paliativas, devem solucionar os gargalos.

Fonte: Diário Catarinense

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